terça-feira, 20 de maio de 2008

ENTRELINHAS

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O que define um bom e um mau livro? Será pela beleza da escrita, pelas metáforas complexas? Ou será pela força e consistência do enredo da história, pelas suas personagens?

Diríamos que se define, em primeiro lugar, pelo que que se escreve, e pela forma como é escrito. Mas achamos que, acima de tudo, um bom livro se define pelo que não se diz mas pelo que se transmite, pela emoção que guarda, pelo que está entrelinhas e atravessa aquele limite de letras e frases para ir ao nosso encontro.

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OS MAIAS – A DESMISTIFICAÇÃO
por Miguel Troncão


Hoje gostaria, nesta crónica literária, se desmistificar um livro que tem atormentado as nossas queridas e estimadas cabeças – Os Maias, de Eça de Queirós.

O que vou dizer a seguir não sei se ajudará ou não à leitura do dito cujo, mas vejam o livro como mais uma telenovela da TVI. Isto torna as coisas muito mais empolgantes. Temos irmãos que não sabem que o são; temos um vilão que manda cartas anónimas; temos cartas que revelam que os outros são, na realidade, irmãos. Meus queridos colegas, o que apenas falta nesta bela obra é uma Sofia Alves que faz de cega, de resto temos tudo.

Tem também de ser mencionado o alto nível cómico desta obra, que podia muito bem ser, em vez duma telenovela, uma sitcom, rivalizando com a série Seinfeld. Temos um ateu bêbedo, um novo-rico gordalhufo, uma donzela mais atrevida; só nos falta mesmo um malabarista de motas.

É por tudo isto que acho que não se deve menosprezar este grandioso livro, Os Maias. Leiam-no com prazer.

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AS VINHAS DA IRA, DE JOHN STEINBECK
por João Gramaça


Esta é uma das obras fundamentais da literatura mundial, um poderoso romance que representa um marco na bibliografia norte-americana – afinal só valeu a John Steinbeck o Pulitzer, em 1939, e um importante contributo para o Prémio Nobel da Literatura, em 1962.

Esta obra debruça-se sobre a miséria que as famílias camponesas dos Estados Unidos sofreram nos negros anos da Grande Depressão – década de 30 do século XX – e a forma como enfrentaram o destino.

A história gira à volta da família Joad, uma família de agricultores do Oklahoma, que perde tudo, graças à crise financeira e ao despotismo das grande companhias, e que parte para a California. As relações pessoais vão-se tornando cada vez mais complexas ao longo dos quilómetros que percorrem, na mítica Route 66, em busca de um amanhã melhor, uma esperança vã e que só os leva a afogarem-se cada vez mais na corrente que arrastou a população americana na época. É a saga de uma luta diária pela sobrevivência, de uma fuga constante para a frente, e do modo como as pessoas mantêm a dignidade, mesmo quando tudo se desmorona à sua volta, mesmo quando são alvos de discriminação, mesmo quando são perseguidos e tratados como animais.

Este é um livro com um realismo quase brutal, que apresenta descrições fieís e diálogos fluidos (onde o calão surge várias vezes), tornando quase palpável os ambientes de desânimo, as paisagens desoladoras, a sujidade entranhada nas roupas... Acaba por ser uma história absorvente e tocante, face a toda a pobreza e amargura da existência sofrível e ingénua de uma família arrancada ao conforto do lar.

Aliás, podemos considerar este romance uma crítica contra o poder capitalista, que se aproveita de milhares de pessoas sem argumentos económicos ou políticos para cobrir os seus deslizes, para além de uma análise a vários sectores da sociedade americana da altura – desde os agricultores até aos empresários.

Sobre o autor:
Romancista norte-americano, John Steinbeck nasceu em 1902 em Salinas, no estado da Califórnia. Tendo terminado os seus estudos secundários na sua terra natal, Steinbeck ingressou na Universidade de Stanford com o estatuto de aluno especial, estudando Biologia Marinha.
Durante estes anos de vida académica, Steinbeck estreou-se como escritor, contribuindo com alguns dos seus contos e dos seus poemas em publicações universitárias. Prosseguiu para o jornal The American, de Nova Iorque, trabalhando primeiro como assalariado até chegar ao posto de repórter, acabando depois por regressar à Califórnia.
Enquanto tomava conta de uma propriedade em High Sierra, isolada do mundo pela neve durante oito meses por ano, Steinbeck encontrou o tempo e a disposição para escrever Cup of Gold (1929), The Pastures of Heaven (1932) e To a God Unknown (1933).Em 1935 publicou a obra que lhe garantiria a atenção do público, Tortilla Flat. Seguiu-se-lhe In Dubious Battle (1936). Já em 1937 seria a vez de Of Mice and Men, o primeiro grande sucesso do autor, e The Red Pony, adaptado para o cinema em 1949. Obteria o reconhecimento do público em 1939, ao ser galardoado com o Pulitzer e com o National Book Award pela obra The Grapes of Wrath.
A popularidade da obra assumiu proporções tais que, especialmente após a estreia da versão cinematográfica, em 1940, John Steinbeck optou por se exilar no México, onde filmou o documentário da obra Forgotten Village (1941).
Durante a Segunda Guerra Mundial foi correspondente na Grã-Bretanha e Mediterrâneo para o New York Herald Tribune, e dedicou-se à propaganda, da qual The Moon is Down (1942) é um exemplo. Regressou em 1943 a Nova Iorque, casando, nesse mesmo ano, com a cantora Gwyndolyn Conger, de quem teve dois filhos, acabando contudo por se divorciar em 1949. Tendo publicado Cannery Row em 1945, The Wayward Bus e The Pearl em 1947, e A Russian Journal no ano seguinte, o autor encontrou no consumo excessivo de álcool um analgésico para a frustração da separação e da vida na cidade, longe das montanhas de Monterrey e dos vales férteis da sua Salinas natal.
Em 1950 contraiu matrimónio com Elaine Scott e dois anos depois apareceria East of Eden.. Durante grande parte do ano de 1959 Steinbeck refugiou-se numa propriedade rural inglesa e, de regresso, publicou o seu último grande romance, The Winter of Our Discontent (1961).Veio a falecer em Nova Iorque a 20 de Dezembro de 1968, vítima de um ataque cardíaco.
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